Danielle Monteiro
Cuidar é um conceito que tem diversas definições. No campo da medicina, significa mais do que tratar a doença. É também dialogar, motivar e tratar cada paciente como um todo, considerando o conjunto de suas necessidades e peculiaridades. E é sobre esse “cenário do cuidar” que discorrem os docentes Luiz Antonio Santos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Lina Faria, da Universidade Gama Filho, em artigo publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos da Fiocruz. No artigo, além de apontar alguns problemas na organização social do cuidar, os estudiosos propõem a humanização do cuidado como meta presente na atividade do profissional de saúde. “A força da medicina humanizada e integral dependerá, no futuro próximo, da capacidade dos profissionais médicos de alcançar o cuidar do doente, e não apenas da doença, como valor primordial para a atenção no processo saúde/doença”, ressaltam. Para os estudiosos, na relação do fisioterapeuta com o paciente e demais profissionais é imprescindível que as práticas ou tecnologias empregadas venham acompanhadas do contato com o paciente, através da empatia, compreensão e escuta, no seu processo de reabilitação Segundo os estudiosos, a perda de prestígio do clínico e a imposição do mundo da técnica e do fazer impessoal aos profissionais de saúde têm provocado o distanciamento entre eles e seus pacientes, prejudicando a adoção de uma medicina integral e humanizada. O artigo aponta que, embora esteja perdendo espaço no mundo atual, o toque humano contribui efetivamente para a cura do paciente, como relatado nos casos de AIDS nos anos 80. “Os depoimentos de doentes terminais expressavam justamente o apreço pela ‘mão que cuida’ das equipes de enfermagem e visitadoras voluntárias, que marcavam sua presença de um modo diferente da equipe médica e de especialistas”, relatam os estudiosos. A relação hierárquica entre profissionais no mundo do trabalho, principalmente nos grandes complexos hospitalares, também contribui para a falta de envolvimento com o paciente, conforme indica o artigo. “Cabe-nos refletir sobre a dualidade constitutiva da formação do campo da enfermagem. Tudo indica que a separação entre o auxiliar que cuida e o enfermeiro que administra ou exerce posições de chefia terá de ser reavaliada”, advertem os estudiosos. “A manutenção do vínculo direto entre enfermagem e pacientes está em questão e não pode ser perdida ou se perderá com ela o compromisso com valores comuns, como o apreço pelo toque humano, o sentido de respeito, confiança e obrigação moral que deve prevalecer no interior da enfermagem e da profissão médica”, alertam. Para a superação do dilema entre gestão e cuidado, os estudiosos enfatizam a necessidade de debates que proponham caminhos alternativos e que ocorram, sobretudo, em cursos de formação de profissionais. “O cuidado tem sido por não poucos, particularmente pelos alunos, avaliado como atividade menor diante da atividade supostamente superior da gestão hospitalar ou da gestão de recursos humanos de saúde”, revelam. Uma área da saúde que se consolida Qual seria o papel da fisioterapia nesse cenário do cuidar? Por meio da prevenção e assistência à comunidade, o fisioterapeuta atua criando condições de qualidade de vida. E o cuidado, por meio do toque, está presente em todos os níveis de aplicação de medidas preventivas na fisioterapia. São essas atribuições que, segundo os estudiosos, fazem com que essa área desempenhe papel fundamental no complexo campo das profissões do cuidar. “A fisioterapia pode colaborar ativamente com as demais profissões da atenção à saúde: o fisioterapeuta necessita estar junto ao paciente para que este supere a perda de movimento, para fazer (res)surgir nele a motivação para realizar tarefas e minimizar suas limitações”, argumentam. Para os estudiosos, na relação do fisioterapeuta com o paciente e demais profissionais é imprescindível que as práticas ou tecnologias empregadas venham acompanhadas do contato com o paciente, através da empatia, compreensão e escuta, no seu processo de reabilitação. “O olhar do profissional de saúde deve ser totalizante, buscando uma assistência que procura ir além da doença e da técnica”, destacam. Para isso, é necessária uma reflexão do fisioterapeuta quanto a seu papel na organização do cuidar. “Cabe a ele o desafio de redirecionar sua própria prática e compreender a dimensão social de sua atuação, para capacitar-se como um profissional de saúde de forma mais global”, propõem. O artigo revela que, embora cada vez mais reconhecido como ator importante nos serviços de saúde, o fisioterapeuta ainda encontra obstáculos para sua contribuição à saúde da população. Um deles é a deficiência de cursos de formação com disciplinas que configurem um padrão universalista, permitindo ao profissional a capacitação tanto para o atendimento hospitalar como para um trabalho em um centro ou posto de saúde. “Poucos cursos visam a uma atuação profissional socialmente significativa, com enfoque na necessidade de saúde das pessoas e na dignidade humana. Os fisioterapeutas encontram-se diante do desafio de lutar por práticas docentes que atendam a uma formação mais crítica, reflexiva, voltada para a mudança social de paradigmas de assistência à comunidade”, afirmam os estudiosos. No caminho para uma atuação mais socialmente significativa, a humanização do cuidar não é o único desafio de profissões tradicionais, como a enfermagem, e emergentes, como a fisioterapia. “Essas áreas também têm pela frente a produção de autoconhecimento, a compreensão de suas próprias possibilidades no campo do saber aplicado, além da produção de conhecimentos adequados às necessidades de uma população em constante transformação social, cultural e comportamental”, concluem os estudiosos.
Cuidar é um conceito que tem diversas definições. No campo da medicina, significa mais do que tratar a doença. É também dialogar, motivar e tratar cada paciente como um todo, considerando o conjunto de suas necessidades e peculiaridades. E é sobre esse “cenário do cuidar” que discorrem os docentes Luiz Antonio Santos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Lina Faria, da Universidade Gama Filho, em artigo publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos da Fiocruz. No artigo, além de apontar alguns problemas na organização social do cuidar, os estudiosos propõem a humanização do cuidado como meta presente na atividade do profissional de saúde. “A força da medicina humanizada e integral dependerá, no futuro próximo, da capacidade dos profissionais médicos de alcançar o cuidar do doente, e não apenas da doença, como valor primordial para a atenção no processo saúde/doença”, ressaltam. Para os estudiosos, na relação do fisioterapeuta com o paciente e demais profissionais é imprescindível que as práticas ou tecnologias empregadas venham acompanhadas do contato com o paciente, através da empatia, compreensão e escuta, no seu processo de reabilitação Segundo os estudiosos, a perda de prestígio do clínico e a imposição do mundo da técnica e do fazer impessoal aos profissionais de saúde têm provocado o distanciamento entre eles e seus pacientes, prejudicando a adoção de uma medicina integral e humanizada. O artigo aponta que, embora esteja perdendo espaço no mundo atual, o toque humano contribui efetivamente para a cura do paciente, como relatado nos casos de AIDS nos anos 80. “Os depoimentos de doentes terminais expressavam justamente o apreço pela ‘mão que cuida’ das equipes de enfermagem e visitadoras voluntárias, que marcavam sua presença de um modo diferente da equipe médica e de especialistas”, relatam os estudiosos. A relação hierárquica entre profissionais no mundo do trabalho, principalmente nos grandes complexos hospitalares, também contribui para a falta de envolvimento com o paciente, conforme indica o artigo. “Cabe-nos refletir sobre a dualidade constitutiva da formação do campo da enfermagem. Tudo indica que a separação entre o auxiliar que cuida e o enfermeiro que administra ou exerce posições de chefia terá de ser reavaliada”, advertem os estudiosos. “A manutenção do vínculo direto entre enfermagem e pacientes está em questão e não pode ser perdida ou se perderá com ela o compromisso com valores comuns, como o apreço pelo toque humano, o sentido de respeito, confiança e obrigação moral que deve prevalecer no interior da enfermagem e da profissão médica”, alertam. Para a superação do dilema entre gestão e cuidado, os estudiosos enfatizam a necessidade de debates que proponham caminhos alternativos e que ocorram, sobretudo, em cursos de formação de profissionais. “O cuidado tem sido por não poucos, particularmente pelos alunos, avaliado como atividade menor diante da atividade supostamente superior da gestão hospitalar ou da gestão de recursos humanos de saúde”, revelam. Uma área da saúde que se consolida Qual seria o papel da fisioterapia nesse cenário do cuidar? Por meio da prevenção e assistência à comunidade, o fisioterapeuta atua criando condições de qualidade de vida. E o cuidado, por meio do toque, está presente em todos os níveis de aplicação de medidas preventivas na fisioterapia. São essas atribuições que, segundo os estudiosos, fazem com que essa área desempenhe papel fundamental no complexo campo das profissões do cuidar. “A fisioterapia pode colaborar ativamente com as demais profissões da atenção à saúde: o fisioterapeuta necessita estar junto ao paciente para que este supere a perda de movimento, para fazer (res)surgir nele a motivação para realizar tarefas e minimizar suas limitações”, argumentam. Para os estudiosos, na relação do fisioterapeuta com o paciente e demais profissionais é imprescindível que as práticas ou tecnologias empregadas venham acompanhadas do contato com o paciente, através da empatia, compreensão e escuta, no seu processo de reabilitação. “O olhar do profissional de saúde deve ser totalizante, buscando uma assistência que procura ir além da doença e da técnica”, destacam. Para isso, é necessária uma reflexão do fisioterapeuta quanto a seu papel na organização do cuidar. “Cabe a ele o desafio de redirecionar sua própria prática e compreender a dimensão social de sua atuação, para capacitar-se como um profissional de saúde de forma mais global”, propõem. O artigo revela que, embora cada vez mais reconhecido como ator importante nos serviços de saúde, o fisioterapeuta ainda encontra obstáculos para sua contribuição à saúde da população. Um deles é a deficiência de cursos de formação com disciplinas que configurem um padrão universalista, permitindo ao profissional a capacitação tanto para o atendimento hospitalar como para um trabalho em um centro ou posto de saúde. “Poucos cursos visam a uma atuação profissional socialmente significativa, com enfoque na necessidade de saúde das pessoas e na dignidade humana. Os fisioterapeutas encontram-se diante do desafio de lutar por práticas docentes que atendam a uma formação mais crítica, reflexiva, voltada para a mudança social de paradigmas de assistência à comunidade”, afirmam os estudiosos. No caminho para uma atuação mais socialmente significativa, a humanização do cuidar não é o único desafio de profissões tradicionais, como a enfermagem, e emergentes, como a fisioterapia. “Essas áreas também têm pela frente a produção de autoconhecimento, a compreensão de suas próprias possibilidades no campo do saber aplicado, além da produção de conhecimentos adequados às necessidades de uma população em constante transformação social, cultural e comportamental”, concluem os estudiosos.
Fonte: Enfermagem Atualizada
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